Museu Ferroviário Estação João Felipe é destino obrigatório para conhecer a formação do Ceará
Por Redação - Conexão085
O Museu Ferroviário Estação João Felipe está de portas abertas, proporcionando uma viagem única pelos trilhos da memória. O rico acervo, preservado e organizado pela comunidade ferroviária, ganhou nova sede, tornando-se rota obrigatória de encontro e imersão em um dos principais capítulos acerca da formação do Ceará.
Recém inaugurado, o Museu Ferroviário integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará). A instituição se une à Pinacoteca do Estado do Ceará, a Kuya – Centro de Design do Ceará, o Mercado AlimentaCE e a Estação das Artes, formando o Complexo Cultural Estação das Artes, gerido em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte.
As peças expostas são oriundas do antigo Museu do Centro de Preservação da História Ferroviária do Ceará. Este primeiro espaço de salvaguarda funcionou até 1999, nas antigas oficinas da “Estrada do Urubu” (oficinas Demosthenes Rockert), no bairro Carlito Pamplona, sob coordenação da então Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) e apoio da Associação de Engenheiros da Rede Viação Cearense (AERVC).
Rebatizado com o nome da centenária Estação Ferroviária João Felipe, ocupa agora um dos antigos galpões da RFFSA e abriga a exposição de longa duração intitulada “Nos trilhos do tempo. Histórias da ferrovia do Ceará”, com curadoria assinada por André Scarlazari e Marcus Braga.
A cerimônia de inauguração aconteceu em novembro de 2023, contudo, as atividades do Museu Ferroviário Estação João Felipe iniciaram em janeiro de 2023, atendendo o público no prédio da Associação dos Ferroviários Aposentados do Ceará (AFAC). Até outubro, quando atuou neste endereço, recebeu mais de 13 mil pessoas durante 201 ações realizadas. 150 anos após a primeira viagem de trem no estado (acontecida em 30 de novembro de 1873), os cearenses testemunham uma nova fase deste relevante território de conhecimento histórico.
O acervo do Museu reúne décadas de serviços e feitos prestados à população, consolidando diversos acontecimentos marcantes entre as estações e linhas que corriam o Ceará.
Lugar da memória
Com a criação do Complexo Cultural Estação das Artes, o Museu Ferroviário retorna em novo projeto museal e gestão compartilhada entre a Secult Ceará, Instituto Mirante e a AERVC, com anuência do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a partir de um inventário de objetos e documentos e um novo Termo de Cooperação Técnica entre os entes envolvidos para a sua retomada e consolidação.
Reunindo valiosos objetos e documentos, configura-se como espaço cultural para pesquisas, encontros, rodas de conversa e aprendizados. O Museu Ferroviário Estação João Felipe nos ensina acerca das mulheres que igualmente fizeram a história ferroviária do Ceará. Como o exemplo da ferroviária Ana Angélica (1935-2023), que foi professora do Centro Educacional Paulo Sarasate, antiga escola da RFFSA. Atuou no serviço administrativo da companhia na área de patrimônio, assim como no antigo Museu do Centro de Preservação da História Ferroviária do Ceará.
Diretora de Comunicação Social da Associação dos Ferroviários Aposentados do Ceará (AFAC), Maria Erivany Soares compartilha da relevância do Museu no processo de preservação da identidade cearense. “A importância é imensurável, pois o Ceará teve um grande desenvolvimento socioeconômico com o surgimento da ferrovia, iniciado com a Rede de Viação Cearense (RVC) e, algum tempo depois, com a unificação das ferrovias estaduais e criação da RFFSA”.
A inauguração demarca a nova casa do Museu Ferroviário, porém, simbolicamente, é também um retorno ao local onde toda essa jornada por sobre trilhos começou, a Estação João Felipe, onde hoje pulsa o Complexo Cultural Estação das Artes. Erivany reflete em sua fala do quanto este acervo é capaz de traçar o surgimento de inúmeras famílias por conta da ferrovia. Um espaço cultural que dará à sociedade cearense uma oportunidade de compreender um pouco de suas origens e ensinamentos para o futuro.
“Os jovens não conheceram, assim, muito do transporte ferroviário, por conta exatamente da suspensão do transporte de passageiros com a extinção da RFFSA. Foi uma decisão do governo neoliberal da época. Ao invés de ter feito algo para otimizar, dar mais oportunidades a população mais carente socialmente, fez exterminar. A RFFSA nunca teve o lucro como meta, era uma empresa que tinha um objetivo social bem definido”, explica a referência ferroviária.
Co-curador da exposição “Nos trilhos do tempo. Histórias da ferrovia do Ceará”, em cartaz no Museu Ferroviário, André Scarlazzari aponta como se deu o trabalho de produção da mostra. “Contratamos uma equipe de pesquisa e começamos a trabalhar os conteúdos. Nos aproximamos da Associação dos Engenheiros, que é uma entidade super potente nesse processo, pois são detentores da guarda de todo o acervo. E nesse mais de um ano para cá, a coisa começou a tomar corpo e começamos a ir para prancheta mesmo desenhar, até que culminou no Museu que inauguramos, depois de dois anos de trabalho. Os ferroviários são uma grande família, são muito unidos. É um fenômeno”, contextualiza o entrevistado.
7 de janeiro de 2024 às 17:00