MIS-CE participa de evento em SP sobre restauro digital de filmes cearenses
Por Redação - Conexão085
O Museu da Imagem e do Som do Ceará, criado em 1980, conta atualmente com um acervo composto por mais de 150 mil itens. Em meio às referências ao patrimônio material e imaterial do estado, nesses 44 anos houve diversos processos de aquisição, doação, preservação e salvaguarda nos quais foram reunidos múltiplos conteúdos e suportes que estão a serviço da população. O MIS integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará, com gestão parceira do Instituto Mirante de Cultura e Arte.
Como exemplo da relevância da atuação da Gerência de Acervo e Pesquisa do MIS-CE, técnicos do Museu da Imagem e do Som do Ceará têm sido convidados para participar de eventos para explicar como o trabalho de restauro digital de filmes cearenses é realizado no Museu. Isso aconteceu nesta semana, no Encontros IC Play, evento realizado pelo Itaú Cultural, em São Paulo. Outra iniciativa semelhante foi realizada durante a 19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, realizada em junho de 2024.
No evento em São Paulo, David Felício e Gabriela Dantas, especialistas em preservação, conservação e digitalização de acervos do MIS-CE, apresentaram dois estudos de caso de restauro e digitalização de obras cinematográficas. Os filmes escolhidos foram “Jangada de ir e vir”(de Marcus Vale), e “Reis do Cariri” (de Oswald Barroso), que foi exibido na íntegra. A fala contou com cerca de 70 participantes.
“Para o Museu da Imagem e do Som do Ceará, é muito relevante que convites como esse do Itaú Cultural estejam sendo realizados. Dessa forma, conseguimos mostrar para outros estados como esse trabalho de restauro digital vem sendo desenvolvido no Ceará e quão significativo ele é para a cultura cearense”, explica a diretora adjunta do MIS, Natasha Faria, que também esteve presente no evento.
A equipe do MIS-CE que fez a apresentação descreveu o processo de restauro de cada filme e dialogou com o público participante, formado por pesquisadores, técnicos e espectadores de cinema interessados no tema. Para a equipe técnica do MIS-CE, participar dos “Encontros IC Play” foi uma oportunidade de compartilhar o trabalho de digitalização e restauro digital de filmes realizados nos laboratórios do Museu, conectando o público com a importância da preservação audiovisual local e ampliando conexões com profissionais de outras instituições. “Para nós, como profissionais, foi uma realização poder dialogar com o público participante, especializado ou não, sobre a relevância desses projetos de restauro que abordam a cultura popular cearense e apresentar as ferramentas e metodologia de trabalho que utilizamos para produzir restauro digital em nosso contexto tecnológico institucional”, ressaltaram Gabriela Dantas e David Felício.
Acervo MIS-CE
Para dar a dimensão da quantidade e da diversidade de itens do acervo do MIS-CE, há cerca de 10,5 mil discos (entre os de vinil, cera e metal), aproximadamente 5,2 mil filmes, quase 21 mil slides, 53,2 mil negativos e mais de 32 mil fotos. Entre as coleções está o acervo do cearense Humberto Teixeira, com mais de 7,7 mil itens, que foi parcialmente utilizado na exposição “Quando o sertão ganhou o mar – a obra de Humberto Teixeira”.
Em março de 2022, o MIS CE foi reaberto após ampliação e vem passando por mudanças significativas que representaram ampliação do espaço, da equipe e das atividades. Ao longo desse período, o acervo vem sendo processado por equipe especializada e cerca de 30% do total foi catalogado. Para realizar pesquisas no Acervo do MIS, as pessoas podem entrar em contato por meio dos e-mails pesquisa.mis@institutomirante.org e acervo.mis@institutomirante.org.
“As ações museológicas praticadas pela equipe técnica do Museu da Imagem e do Som do Ceará são a base para a preservação do acervo do MIS, que abriga importantes registros audiovisuais, sonoros e fotográficos da cultura cearense. A etapa inicial desse processo técnico é a inventariação destas peças e posteriormente sua catalogação, um processo minucioso onde a coleta de informações detalhadas sobre a origem, autoria, materiais, técnicas empregadas em relação ao objeto são o ponto chave desta ação, que também inclui uma rápida avaliação em seu estado de conservação”, destaca a gerente de Acervo e Pesquisa, Sandra Regina de Jesus.
Após o inventário e a catalogação, explica a museóloga, a conservação preventiva desempenha um papel decisivo na manutenção do acervo. Além disso, o controle ambiental, a iluminação adequada, o monitoramento da umidade e temperatura, bem como o manuseio cuidadoso também são medidas indispensáveis para garantir que a peça possa suportar, da melhor forma possível, o decorrer dos anos e as ações do tempo. “Em um acervo como o do MIS, em que tanto o suporte, quanto o conteúdo que está contido nele, são desafiadores, pois com o avanço das tecnologias, estamos sempre em uma corrida contra a obsolescência destes materiais, o que torna o nosso trabalho bastante desafiador”, ressalta.
Política de acervo
O MIS-CE está envolvido em um processo de recuperação e digitalização de um acervo que abrange quase 45 anos de história cultural, sonora e audiovisual. Este projeto é de extrema importância, pois visa não apenas preservar o vasto patrimônio já existente, mas também torná-lo acessível ao público, aos pesquisadores e às futuras gerações. A complexidade desse trabalho é que ele envolve recursos substanciais, tanto financeiros quanto humanos, além de um tempo considerável para que a preservação seja realizada de forma adequada e meticulosa.
A aquisição de novos acervos que são relevantes para contar a história do povo cearense passa por etapas que também envolvem critérios técnicos. A política de acervos vigente no MIS buscou dar conta do acervo constituído ao longo dos últimos quarenta e quatro anos e deve ser revisada em 2025.
Nessa política de acervo, estão previstos fluxos de procedimentos técnicos para aquisições que levam em conta questões como a relevância e a conservação do acervo, bem como a definição do espaço mais adequado para salvaguardá-lo. De março a agosto de 2024, a equipe do Acervo e Conservação do MIS realizou um total de 19.220 ações de salvaguarda, que incluem digitalização e catalogação de livros e filmes, entre outras medidas.
Filmes e Discos de Vinil
A restauração de filmes, por exemplo, requer um trabalho extremamente minucioso que é feito quadro a quadro. Alguns exemplos de filmes recentemente restaurados pelo MIS são o documentário “Chico da Silva”, do diretor Pedro Jorge de Castro; “Reis do Cariri” de Oswald Barroso e “Jangadas-de-ir-e-vir” de Marcus Valle.
Outra etapa importante a ser realizada é a digitalização dos discos de vinil, que também demandará um processo altamente detalhado e demorado. Cada LP requer entre 45 e 60 minutos para ser digitalizado sem pós-processamento, e até duas horas quando o áudio é submetido a um processo de limpeza digital para remover ruídos e imperfeições. Este trabalho requer equipamentos especializados e software adequado, além da experiência de profissionais capacitados e de um planejamento rigoroso que leve em consideração a preservação da qualidade do áudio original.
Além disso, manter o acervo físico, além da digitalização, também é essencial. Isso se dá por várias razões que vão além da simples preservação do conteúdo cultural. O acervo físico representa a materialidade original dos discos de vinil, que inclui o conteúdo sonoro, a capa, o design gráfico, as notas, e até as características físicas do próprio disco, como as marcas de prensagem e sinais de desgaste. Estes elementos são parte integral da autenticidade e da história cultural que o acervo representa.
Os discos de vinil e seus componentes físicos são artefatos históricos que refletem a tecnologia, o design e as práticas culturais de sua época. Preservar esses objetos permite que as futuras gerações tenham acesso a esses aspectos tangíveis do passado, o que é crucial para estudos históricos, estéticos e culturais. A interação com o acervo físico proporciona uma experiência sensorial única que a digitalização não pode replicar. O ato de manusear o vinil, observar seus detalhes e ouvir o som característico de um disco sendo tocado são experiências que conectam o público de forma mais profunda e emocional com o material original.
Vale ressaltar, ainda, que os processos acima elencados são realizados item por item. Demandam tempo, recursos, pesquisa e equipes. A coleção Humberto Teixeira, por exemplo, começou a ser tratada em 2022, e seus mais de 7,7 mil itens ainda passam por processos de digitalização e acondicionamento, fora os procedimentos que permitiram que parte dela tenha sido exposta na Exposição Quando o Sertão ganhou o mar.
Desafios do acervo
Manter o acervo físico também é importante para a preservação das tecnologias e técnicas analógicas associadas à produção e reprodução de música em vinil. Isso inclui não apenas os discos em si, mas também os equipamentos e conhecimentos necessários para reproduzi-los adequadamente. Embora a digitalização seja uma excelente ferramenta de preservação e acessibilidade, é preciso considerar que ela não é infalível. Problemas técnicos, obsolescência de formatos digitais e perda de dados são riscos que podem comprometer de forma significativa o acesso futuro ao conteúdo. Manter o acervo físico serve como uma salvaguarda contra esses riscos, garantindo que o material original permaneça disponível.
Diante dessas demandas, é crucial que o MIS CE concentre esforços na conclusão do projeto de recuperação do acervo atual. Para garantir a eficácia das ações museológicas e a continuidade do legado cultural que o MIS CE representa, é fundamental que a instituição finalize com êxito o projeto em curso, consolidando as bases para futuras expansões de forma sustentável e planejada.
Laboratórios do MIS: preservação, conservação e digitalização
O MIS CE possui laboratórios que tratam da conservação e digitalização dos itens que compõem seu acervo. Os laboratórios de conservação, digitalização e finalização/ impressão do MIS-CE são um núcleo essencial para a salvaguarda e difusão do acervo do museu. Divididos em três unidades técnicas – conservação, digitalização e finalização/ impressão – esses espaços são fundamentais para a garantia da integridade, acondicionamento adequado e acesso aos registros audiovisuais, fotográficos e dos demais suportes que compõem o acervo.
O laboratório de conservação é o local de passagem dos itens no processo de salvaguarda, que tem como função cuidar minuciosamente da inspeção e avaliação do acervo para seu tratamento. Com equipamentos e insumos de excelência para as práticas de conservação, como exemplo de mesas de inspeção para películas cinematográficas e microscópios digitais portáteis, os profissionais que atuam neste laboratório realizam desde a higienização mecânica simples até tratamentos de conservação mais específicos, a fim de preparar os itens para sua digitalização e acondicionamento final. Além disso, é de responsabilidade desta unidade técnica a padronização das estratégias de preservação e produção da documentação detalhada referente às ações de tratamento realizadas nos itens do acervo.
Já o laboratório de digitalização possui equipamentos de ponta, como o Zeutschel ScanStudio, para itens planos – como fotos, negativos e revistas -, e o DFT Scanity HDR 4K, para as películas cinematográficas. Essa unidade técnica é responsável tanto por digitalizar o acervo do MIS CE, promovendo a preservação digital ao visar o seu acesso permanente, como também tem apoiado outras instituições públicas e parceiros externos. As digitalizações de alta qualidade, obtidas por meio dos equipamentos deste laboratório, asseguram a fidelidade e a precisão das reproduções digitais dos documentos e filmes, enquanto um servidor dedicado é capaz de garantir o acesso contínuo e seguro aos arquivos ao longo do tempo, por meio da preservação digital.
Para alcançar a autonomia e integridade em suas atividades, o laboratório de Finalização/ Impressão desempenha um papel essencial na produção das caixas de acondicionamento dos itens que serão realocados nas Reservas Técnicas do museu, garantindo a guarda mais apropriada para longo prazo, como também na preparação dos representantes digitais para difusão. Nesse laboratório, os arquivos digitais são finalizados, restaurados digitalmente e ajustados conforme necessário, utilizando softwares especializados como DaVinci Resolve, Diamant e Adobe Photoshop. Além disso, essa unidade técnica é responsável pela produção de materiais gráficos para exposições do MIS.
Serviço:
- MUSEU DA IMAGEM E DO SOM DO CEARÁ
- Endereço: Av. Barão de Studart, 410. Meireles.
- Funcionamento:
- Quarta e quinta: 10h às 18h, com acesso às exposições até 17h30.
- Sexta a domingo: 13h às 20h, com acesso às exposições até 19h30.
- Entrada: gratuita.
29 de setembro de 2024 às 9:15