Fevereiro Laranja: Brasil deve contabilizar 11.540 novos casos de leucemia por ano até 2025 e ICC alerta para o diagnóstico precoce da doença e a importância da doação de medula óssea
Por Redação - Conexão085
O segundo mês do ano é dedicado à campanha de conscientização sobre a leucemia, um tipo de câncer sanguíneo. O objetivo do Fevereiro Laranja é alertar sobre a importância do diagnóstico precoce e sensibilizar a população sobre a necessidade da doação de medula óssea.
A campanha ocorre em alusão ao Dia Mundial do Câncer, que é lembrado em 4 de fevereiro. Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca) aponta que o número estimado de novos casos de leucemia por ano, para o Brasil, no triênio de 2023 a 2025, é de 11.540.
Só no Ceará, são esperados 850 novos casos no mesmo período. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, a leucemia ocupa a décima posição entre os tipos de câncer mais frequentes no País.
Ainda de acordo com o Inca, em relação à mortalidade, em 2020, ocorreram, no Brasil, 6.738 óbitos por leucemia (3,18 por 100 mil). Nos homens ocorreram 3.703 óbitos (3,58 por 100 mil) e, nas mulheres, 3.035 óbitos (2,80 por 100 mil).
A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos), geralmente de origem desconhecida. Tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, impedindo a formação de células sadias. A imunidade do paciente fica prejudicada e, em decorrência disso, aparecem as infecções.
Existem mais de 12 tipos de leucemia, sendo os quatro primários: leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (LLC). Em geral, a incidência aumenta com a idade, entretanto, a doença pode ocorrer em qualquer época, com subtipos dominantes dependendo da idade. As LLA são mais comuns em crianças menores de 15 anos, enquanto as LLC e LMA são mais incidentes em pessoas mais velhas.
Diagnóstico e sintomas
O médico hematologista Franklin Santos, que atua no Hospital Haroldo Juaçaba (HHJ), Complexo hospitalar do Instituto do Câncer do Ceará (ICC) – reconhecido pelo Ministério da Saúde com o título Cacon, concedido pelo às instituições que representam o compromisso em fornecer assistência especializada de alta complexidade para o tratamento de todos os tipos da doença – explica que a leucemia causa o crescimento acelerado e anormal nas células do sangue, responsáveis pela defesa do organismo, os leucócitos.
Segundo o especialista, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado aumentam as chances de cura e, por isso deve-se ficar alerta para sintomas como anemia, cansaço, fadiga, queda de imunidade, baixa na contagem de plaquetas, infecção, febre, hematomas e sangramentos espontâneos.
Em geral, as leucemias agudas apresentam como principais sintomas um quadro de anemia, que gera palidez e cansaço; diminuição das células de defesa do organismo, causando infecções e febre; queda do número de plaquetas, com ocorrência de hemorragias e manchas roxas pelo corpo. Isso ocorre porque, na forma aguda, a medula não consegue produzir células adultas e passa a produzir desordenadamente células imaturas (blastos), que não são funcionais. “Estas têm evolução mais rápida, necessidade de diagnóstico e tratamento imediato”, explica o hematologista.
Já as leucemias crônicas têm um tempo mais lento de manifestação. Os pacientes podem ser assintomáticos por longos anos ou apresentarem sinais inespecíficos, como cansaço, suor noturno, febre que surge no final do dia, entre outros. Nestes casos, a medula óssea produz células adultas funcionais, porém em número extremamente exagerado e com evolução um pouco mais lenta. No caso de um paciente assintomático, a doença pode ser descoberta em um exame de rotina.
O hematologista explica que “o diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais, como o hemograma, mas deve incluir ainda exames de bioquímica, de coagulação, além de mielograma, imunofenotipagem e cariótipo, que são os exames de medula óssea”.
“É uma doença estigmatizante, mas, se identificada precocemente, as taxas de cura aumentam, por isso é importante uma campanha como Fevereiro Laranja”, completa Franklin.
Prevenção
Ainda de acordo com o especialista, a maioria dos casos de leucemia não podem ser evitados, pois na maioria das vezes, os pacientes que desenvolvem a doença não apresentam nenhum fator de risco conhecido que possa ser modificado.
Fatores de risco
De acordo com o Inca, a origem das leucemias pode estar ligada a fatores genéticos e ambientais, sendo os fatores de risco ambientais responsáveis por uma proporção pequena do número de casos da doença. Com exceção da LLA, quanto mais avançada a idade, maior o risco de desenvolver leucemia.
Outros fatores de risco com evidência suficiente são tabagismo e tratamento prévio com radioterapia ou alguns quimioterápicos. Histórico familiar, algumas síndromes genéticas (Síndrome de Down, anemia de Fanconi, Li-Fraumeni) e outras doenças hereditárias, infecções por vírus linfotrópico de células-T humanas do tipo 1 (HTLV-1) ou vírus Epstein-Barr (EBV) também são fatores de risco.
Entre os agentes ocupacionais cancerígenos com evidência suficiente de aumento de risco às leucemias, destaca-se a exposição ao benzeno, ao formaldeído, às radiações X e gama, agrotóxicos, amianto (asbestos), sílica, xileno e tolueno.
Geralmente, os profissionais expostos a esses agentes são agricultores, operários da indústria química e construção civil, trabalhadores de laboratório, mineradores e outros.
Tratamentos
A indicação de tratamento vai depender do tipo da leucemia (se aguda ou crônica, se mieloide ou linfoide), podendo ser desde medicamentos orais simples até quimioterapias mais intensivas com várias drogas. A intenção é anular as células cancerígenas e retornar à produção das células sadias.
Durante o tratamento é administrada a medicação quimioterápica, há um controle das infecções, das hemorragias e um foco maior no cuidado da doença no Sistema Nervoso Central, o que abrange o cérebro e a medula espinhal. Após o controle da doença, se necessário, é aconselhável o transplante de medula óssea. Ele é indicado em casos de alto risco. O procedimento consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais de medula óssea, com o objetivo de reconstituição de uma medula saudável.
O primeiro passo para o procedimento é a investigação dos familiares de primeiro grau do paciente em busca de compatibilidade. Caso isso não ocorra, é registrada a necessidade em um banco de medula. Os doadores voluntários são examinados e os resultados também vão para esse banco. No momento em que surge a compatibilidade entre o doador e o paciente, é feito o procedimento de coleta do material. A doação é importante, pois a chance de encontrar doadores compatíveis é relativamente baixa.
Doação de medula óssea
Para ser doador, basta ter entre 18 e 35 anos, apresentar boas condições de saúde, não ter apresentado ou estar em tratamento de câncer, doenças no sangue, no sistema imunológico ou ainda doenças infecciosas e se cadastrar em um hemocentro.
Ao fazer o cadastro, o doador faz a coleta de 5 ml de sangue para testes de compatibilidade e o resultado fica arquivado no cadastro de medula óssea. Os dados pessoais e os resultados dos testes serão armazenados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), coordenado pelo Inca. Caso o doador seja compatível com algum paciente da lista de espera, ele será convidado a fazer a doação. Por isso, também é importante os doadores manterem seus dados atualizados.
“A doação de medula óssea é um ato que pode salvar vidas, ela pode ser usada para cura de aproximadamente 80 doenças. A principal barreira para o procedimento ser realizado é a dificuldade na busca de doadores compatíveis. Por isso, quanto mais doadores cadastrados maiores as chances de um paciente encontrar uma compatibilidade”, finaliza Franklin.
7 de fevereiro de 2024 às 8:26