Dia Mundial da Poesia: relembre a obra de 7 poetas cearenses

Por Redação 085 - Conexão085

Comemora-se todo ano, no dia 21 de março, o Dia Mundial da Poesia. Seja representando o amor, a alegria, a tristeza ou até as coisas simples da vida, vários poetas da Terra da Luz ficaram marcados na história da literatura poética.

O Dia Mundial da Poesia foi o dia escolhido na 30ª Conferência Geral da Unesco em 1999, para homenagear esse gênero literário. É também uma oportunidade para que leitores conheçam a poesia de novos autores, além de reverenciar os grandes nomes.

Relembre parte das obras de alguns dos principais autores cearenses do gênero:

 

Patativa do Assaré (1909-2002)

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.

Angela Gutiérrez (1945 – )

BANHO DE BIQUEIRA

Quero tomar banho
debaixo das biqueiras
de casas tão antigas
que a água da chuva
caia sobre minha cabeça
filtrada por dores, sorrisos e silêncios
na morte purificados.

Quero depois correr livre,
os pingos fortes da chuva
lavando minha face renascida

Bráulio Bessa (1985 – )

PRAZERES SIMPLES

Uma carta escrita à mão
achar dinheiro no bolso
cochilo depois do almoço…
curtir um feriadão
ter bicho estimação
ser grato e compreender…

Um dia vamos morrer
e sentir na despedida
que as coisas simples da vida
nos dão forças pra viver.

Beatriz Alcântara (1943 – )

INTROMISSÃO

Como um cachorro vadio que entra inesperadamente
numa fotografia
vejo o tempo invadir meu corpo e dizer que a
maturidade chegou
vejo a sensatez apoderar-se de minha
alegria e dizer acabou.

Pedro Henrique Saraiva Leão (1938 – 2022)

fica sempre um pouco de nós por onde andamos,
dos nossos braços naqueles que abraçamos;
fica sempre algum sussurro daquilo que gritamos
fica sempre algum calor no leito onde dormimos,
alguma nódoa daquilo que vertemos;
sempre algo de nós naquilo que largamos,
um resto de pó dos caminhos que trilhamos,
algum senso na loucura que adotamos,
um ganho qualquer naquilo que perdemos;
fica sempre um bem-querer naqueles que sofremos,
e sempre algo por dizer daquilo que dissemos.

Antônio Sales (1868 – 1940)

PESCA DA PÉROLA

O coração é concha bipartida:
Nós guardamos no peito uma metade,
E a outra, quem o sabe?- anda perdida
No revoltoso mar da humanidade.

Do escafandro das ilusões vestida,
Neste oceano mergulha a mocidade
Buscando uma afeição que desta vida
Ilumine a profunda escuridade.

Encontra algum essa afeição sonhada
E à tona sobe erguendo a nacarada
Concha que guarda a pérola do amor …

Outro, porém, debalde as águas sonda;
Desce, desce, rolando de onda em onda …
E não mais volta o audaz mergulhador!

Henriqueta Galeno (1887 – 1964)

FORÇA INDÔMITA

Por muito tempo reprimi a inspiração
que, de contínuo, me impelia,
em surtos de beleza e de emoção,
para o caminho iluminado da Poesia.

Minha alma cheia de enternecimento,
temia alçar o vôo, em cânticos de amor,
para um mundo referto de esplendor,
e as impressões subjetivas de sua vida tumultuosa
que em água-forte gravara,
e as impressões objetivas de alheio tormento
que a comoveram e exaltaram,
bem alto traduzir num canto inaugural
de dolorosa queixa e de revolta imensa!

No meu subconsciente tudo dormitava
num receio pueril, num temor natural

Mas de repente minha alma irrompe com fragor
impulsionada por atávica Força Indômita
que me obriga a cantar,
em horas de alegria, instantes de aflição
os versos simples, tristes e espontâneos
da minha grande e lírica emoção!

21 de março de 2022 às 17:10

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